Tempo de felicidade e confraternização. Momento de união e esperança. A única época em que meu pai abre a mão.
Os capitalistas dirão que é a hora de presentear seus amigos; os comunistas gritarão que virou um feriado comercial... mas quem liga? O importante é estampar aquele sorriso no rosto das pessoas especiais e - por que não - de desconhecidos também. Mais que isso, é entrar no clima natalino: abraçar os enfeites, CD's, árvores e guirlandas. Tudo muito lindo.
Acontece que isso é um problema para mim. Não que eu não goste do Natal, ao contrário, é a melhor época do ano. As pessoas ficam felizes, tem comida boa e muita uva. O problema é que a minha mãe é simplesmente psicótica pelo Natal. Não bastasse os tiururuuu tiururuu dos Papais Noéis, ela montou seu próprio arsenal de CD's natalinos.
Hmm, qual estilo eu escolho hoje...
Lá pro fim de novembro mamãe vai até sua coletânea musical e separa cuidadosamente as músicas pro Natal. Daí em diante rola um 24/7 atéééééé o ano seguinte. Acordo ao som de Roberto Carlos e vou dormir embalada por um "Bate o Sino" em chorinho. Todos os CD's tocam.
Até estaria bem se parasse por aí, mas o buraco é um pouquiiiinho mais embaixo.
DOIS? WTF, DUDE DDD:
A Simone é muito gente boa, tem uma voz de respeito mas... POR DEUS, MULHER! POR QUE VOCÊ FEZ ISSO COM A MINHA VIDA?
Há mais de DEZ eu escuto esse CD por dois meses do ano, initerruptamente. Ano passado saiu um novo com uma faixa extra (agora vocês sabem porque tem dois). Ele não é de todo mal... nas três primeira vezes que você ouve. Depois se torna algo... insuportável. Já me peguei cantarolando vááárias faixas inteiras por aí.
- Seja riiiico ♪♪ ooou seeeeja pooobre ♪ o velhiiiiinhooo seeeeeeeempre veeeeem ♪♪O nome disso, amigos, é lavagem cerebral.
- ... cê tá legal, Kacey?
Apesar dos pesares eu conseguia me manter no clima. Conseguia. Até o dia fatídico. O dia em que meu Natal desmoronou. Para encurtar a estória eu tenho um pequeno presépio. Coisa simples, uma gracinha. Tinha a Sagrada Família, dois pastores com suas ovelhinhas na mão e os Reis Magos. Sempre colocava ele na prateleira, perto da minha árvore e lá permaneciam até o dia de Reis. Show.
Acontece que no ano retrasado, quando fui arrumá-lo, percebi que faltava um deles. Não era um qualquer, quem estava faltando era José. José. Digitarei de novo para que vocês me entendam:
JOSÉ.
Amigos, digam-me: como fazer um presépio sem José? Podemos passar sem pastores e até Reis Magos; a Sagrada Família dá conta do recado. Agora... sem José?
Sagrada Família COM José.
Naturalmente me desesperei e logo recorri à responsável pelas decorações natalinas.
- MÃE! MÃE D:
- O que?
- Meu José! Meu José, mãe!
- Que tem ele?
- Ele sumiu! Onde está?
- Não sei. Deve ter quebrado.
(...)
- E como eu vou fazer um presério sem José?!?!?!?
- Ah, bota um pastor no lugar.
Ok, então José segurava uma FUCKING OVELHA no nascimento de Jesus. Na verdade, ele ignorou o parto porque estava EMBALANDO a MALDITA OVELHA. Não, mãe, eu NÃO POSSO por um pastor no lugar do José.
Vocês podem estar pensando "Mas, Kacey, ninguém sentiria falta do pastor..." Tem razão. Mas e se o Baltazar sumisse, hein? Vocês colocariam ele no lugar do José? Acho que ficaria, no mínimo, diferente.
De qualquer maneira, mesmo que eu quisesse substituir alguém, foi ficando cada vez mais difícil, já que minha mãe e a faxineira aqui de casa fizeram o favor de quebrar um Rei Mago e outro pastor. Siiiiim.
Agora Maria não tem esposo, Jesus tem um presente à menos e o pobre pastor vai voltar pra casa sozinho. Muito bem, mãe, muito bem.