quarta-feira, 18 de março de 2009

Carta

Rio de Janeiro, 17 de Março de 2009.

Carta ao Digníssimo Senhor Governador Sérgio Cabral.

    Senhor Governador, muitíssima boa-noite. Espero que esteja gozando de toda a saúde do mundo e que sua família esteja feliz e caminhando pelos trilhos da vida com dignidade. 
    O senhor não me conhece, mas sinto como se fossemos amigos e confidentes, já que tantas vezes falou comigo dentro de minha própria casa. Apesar de dividirmos o mesmo fardo - este belo estado que é o Rio de Janeiro -, nunca tivemos a chance de conversar sobre ele porque, mesmo com todas as suas declarações, nunca encontrei um momento para expôr minha resposta. Talvez porque eu não domine o protocolo da dialética, ou, quem sabe, porque o senhor sempre se retira assim que sua fala termina. Seja qual for a resposta, gostaria muito, mas muito, que pudesse me ouvir um pouquinho.
    Minha vida é boa, minha família me ama, meus poucos amigos me tratam como se eu fosse importante e, finalmente, estou na faculdade, me preparando para ser uma nova peça da grande máquina Brasil. Fatos significativos que, com o costume, tornaram-se naturais para mim. Não pensava neles enquanto voltava hoje para casa. Cantarolava músicas sem sentido e ria à toa de comentários bobos. Foi nesse ambiente descontraído que eu notei um rapazinho, um pouco mais novo que meu primo caçula, aproximar-se da porta do carro, bater devagar e gesticular com a mão. Ele queria dinheiro. 
    O sinal abriu e, pouco tempo depois, passei por um hospital. Foi quando recordei das imensas filas que via todo dia às 7h da manhã nos hospitais do centro da cidade (nosso marco histórico, como o senhor bem sabe). E disso, lembrei do jornal que, diariamente, mostra filas e mais espera nos serviços de saúde.
    Médicos incompetentes, famílias negligentes... tantas justificativas surgiram; e eu até acreditei nelas. Até. Foi quando, há poucos minutos, enquanto, como boa brasileira que sou, assistia à novela das oito, o senhor me surgiu durante um comercial. Confesso que minha atenção estava mais voltada para o msn, onde perco horas conversando com amigos. Contudo, uma palavra em especial chamou minha atenção. UPAs. Como estudante da área de saúde, não pude deixar de me interessar e, aumentando a televisão, prestei atenção em seu pronunciamento. 
    O senhor disse que as UPA's são um sucesso. Trabalham 24h por dia e, logo, o número quadruplicaria (perdão se entendi algo errado). Principalmente, QUATROCENTOS MILHÕES foram investidos com o fim de melhorar esse projeto. Nunca tive nas minhas mãos mais do que 200 reais, portanto, esse valor parece virtual para mim. Todavia, sei que muito pode ser feito com ele. Então me pergunto, senhor governador, o que foi feito? Onde está esse dinheiro? Nos equipamentos ausentes? Ou talvez escondido atrás do baixo salário dos médicos? Quem sabe esteja perdido em um envelope, esquecido sobre uma mesa,  na casa de um desconhecido?
    Pouco tempo depois, o senhor voltou e falou sobre a educação. O ensino, base para o que seremos todos no futuro. Falou em "investir no ensino" e "preparar jovens para o futuro". A imagem do menino me veio à mente. Batendo. Pedindo. Os olhos suplicantes. O xingamento depois de receber um não. O não.
    Sou tão jovem e tola, não entendo de política e muito menos de economia. Mas meus olhos, por sorte, são bons. Meus ouvidos, apesar de pequenos, bem atentos. E minha consciência, por acaso, é persistente. Por isso mesmo fiquei confusa. Por favor, senhor governador, ajude a acabar com essa dúvida. Não precisa dizer o que queremos ouvir. Não, só necessitamos uma coisa. A verdade. Espero, sinceramente, que saiba do que estou falando.

                                                 Meus sinceros cumprimentos, 
                                                                                         N.C.P.R.
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