quinta-feira, 30 de julho de 2009

Medicina e suas implicações.

Imagine seu filhinho, aquele ursinho pimpão que, até ontem, fazia xixi na cama, contando que passou no vestibular para medicina! Aii, que orgulho! Agora ele está a meio caminho do jaleco branco com nome bordado no bolso. E que fique claro que eu disse meio caminho.

Acontece, queridinhos, que a faculdade de medicina é paulera. O foco aqui é aprender a lidar com a vida dos outros. Acho que isso requer um pouco de reflexão. Não é um mar de rosas, nem playground de zumbis (graças a Deus). Tem que correr atrás da matéria que os professores vão indicar, caçar artigos, descobrir congressos e, se der sorte, encontrar uns pistolões por aí.

No básico, fora a residência, são 6 aninhos. Ou seja, muito tempo pra aprender alguma coisa. Matérias gigantescas, com direitos a trinta páginas de matéria por aula dada e matéria cumulativa (pra vida inteira, rapá). Não basta aprender que seu mindinho mexe, precisa saber como, por quê e quem faz ele mexer. Tem que estudar, vagabundos não tem vez. Ou tem, sei lá, tem tanta burrada por aí hoje, né? Enfim.

E isso tudo, é só a parte FÁCIL. É preciso tempo e esforço pra conseguir ao menos ser chamado de doutor. Que dirá agir como um. No seu primeiro período, quando 'cê ainda tá tentando pegar o ritmo daquela professora psicopata e copiar alguma coisa eles aparecem.
Não, não falo de cadáveres, seu bobinho. Falo de vocês.

Vejam bem, quando um engenheiro entra na faculdade, ninguém pede pra ele projetar uma casa. Porque... seria burrice. Se um músico acaba de ingressar na universidade, ele não será membro interino da Orquestra Sinfônica. Eles tem um nome à zelar, afinal.

Agora imagine um estudante de medicina. Nós queremos apenas, um dia, abrir alguém com aquela faquinha bonitinha - popularmente conhecida como bisturi -, somos uns inúteis. Não sabemos porque os asmáticos não podem encher balão ou quem veio primeiro, ovo ou galinha. Contudo...

TODO MUNDO PENSA O CONTRÁRIO.

Você está no elevador. E sente que o vizinho que sobe com você quer dizer alguma coisa. Pode sentir pelo olhar dele. Ao lançar aquele sorriso encorajador, logo descobre o que era: "Tô com uma dorzinha no ombro..."
Estudantes de medicina não são médicos. Estamos nos preparando para isso. Portanto, eu não posso diagnosticar sua dorzinha no ombro. Eu não sei nem APALPAR ombros.

Parece que, pro mundo, 'estudar medicina' é sinônimo de 'oi, me formei ontem, vamos testar meus conhecimentos rs'. O pior de tudo é a cara de incapaz que te sobra, já que, em 89% dos casos, não há a mínima idéia do que possa ser. E respondemos com o mais sincero pesar:

- Hmm. Não sei, desculpe. (As desculpas são um opcional dos educados)

Isso dói, galera. Além de se sentir burro, fica-se com pena da pessoa, que esperava que VOCÊ fosse capaz de resolver o problema dela. O que não faz sentido. Lembra do que falei sobre engenheiros ali em cima? Pois é.

Tenho um amigo que me considera médica. Vive me contando sobre dores musculares e dormências. Faço o que posso, já que... não sei muita coisa. Ainda - que fique claro. Na fase em que estou, 2º período pra ser exata, é onde as coisas mais elementares começam a se encaixar e conseguimos entender PORQUÊ espetar dói e carinho é bom. Não como é o mecanismo de dor/satisfação. Capiche?

Meu próprio pai vive me fazendo perguntas relativas à área. As quais eu respondo prontamente com um "Pai, comecei agora. Não sei isso ainda." E saio bufando.

Deu pra sacar que é tenso, né?
Mas, não se desesperem, pequenos, estudar medicina é muito bom. Pra quem gosta é o oásis. Só precisamos saber conciliar a quantidade absurda de informações novas com todos que já te consideram formado. Mas, putaquepariu, como são chatos. D:

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ps¹: esse post não ficou nem metade do que eu planejava. :(
ps²: paciência, queridos. daqui a 6 anos dá pra te dizer o motivo daquela dorzinha. ;)
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